menu bar

Showing posts with label Poesia. Show all posts
Showing posts with label Poesia. Show all posts

Friday, January 10, 2020

Mães




Eu quero ver a nascente,
de aguas cristalinas
que matam a nossa sede,
que contornam as pedras,
e saltam penhascos gigantescos.

Existe tanta coisa a fazer, 
nesse mundo, nessa nossa vida,
que eu abro a janela
e olho o mundo lá fora,
e fico aqui pensando:
existe tanta coisa a fazer
enquanto eu sento aqui e faço uma criança.

Eu quero ver as pirâmides
que Deus fez, os sete mares,
mas eu tenho voce
crescendo dentro de mim;
e enquanto homens e mulheres
embarcam em aviões, trens e yachts luxuosos,
eu me sento aqui e faço uma criança:
acaricio minha barriga, imagino seus lábios,
seus dedos gordinhos, seus olhos.

Eu invejo as mulheres e seus parceiros
pelo mundo a fora,
conquistando novos fronteiras:
chefes de estado, de empresas
fazendo seus nomes nas artes.

Existe tanta coisa a fazer, 
nesse mundo, nessa nossa vida,
que eu abro a janela
e olho o mundo lá fora e suspiro:
acaricio minha barriga, imagino seus lábios,
seus dedos gordinhos, seus olhos.
 

                                                    

Wednesday, January 8, 2020

Carlos



Hoje,
meu filho me perguntou
o que é um poema,
e eu lhe disse.

Talvez,
embriagado pelo meu orgulho
em seu interesse
por uma arte tão bonita e importante,
eu me precipitei,
e traí milhares de anos de versos
e matei tantos poetas.

Então eu fui buscar
um conhecimento maior,
e achei tudo tão confuso.

Porque, eu me pergunto,
o poeta,
faz seus versos tão impenetráveis,
porque ele os faz tão elusivos.

Eu me senti pequeno na alma,
que meu filho esperava,
enquanto a minha ignorância
me envolvia como um manto
invisível e apertado.

Então eu o fiz, o que fazem
os que não sabem;
irritado,
eu lhe disse que estava ocupado.

Mas o meu filho cresceu,
e virou um adolescente:
inteligente, argumentativo, incapaz
de permitir ao pai, um porto seguro,
um refúgio de sua própria ignorância;
saiu em busca de suas próprias respostas.

Quando ele encontrou um poeta,
ele me ligou imediatamente:
um poema, Carlos lhe disse,
é uma caixinha de presente,
com vida dentro. 

                                                                         

Agora


Eu sonho com o agora
somente agora
e nada mais...

Um suspiro -
não um som-
move meu momento,
e nada mais...

Meio pensamento
que devo conciliar,
com gratidão, sem me importar
com o nascer de uma teoria.

Dentro do meu coração,
um pressentimento me inquieta,
de que nada mais,
é nada mais que agora,
um momento singular,
paradoxalmente eterno.

                                                                         

Perto do Mar


 

Onde estarei
quando o fim chegar,
onde estarei?

Perto do mar?

O que será
de você e de mim,
o que será?

Haverá espaço de ser?

Poeira noturna
caindo no meu ser,
sobre mim
pra todo mundo ver.
Caravanas de carros negros
carregando-me para minha aurora:
olhos vermelhos, vazios, reunidos
pra me aconchegar, e retornar
para seus dias, seus novos dias
dias que não mais serei.

Quando eu deixar de ser
e cada dia que vier sobre o mar
achar somente você, e não o meu ser

O que serei?
Onde estarei?


                                            

Monday, January 6, 2020

Ernest

 


Sinceramente me diga,
como domar um touro
neste tempo de homens covardes.

Quando todos os meninos
são ensinados a agir como as meninas,
e a beleza das meninas são esquecidas
e confundidas em suas sexualidades.

Um dia
de silêncio absoluto;
um dia de paz.

Um dia
onde as estruturas ao nosso redor,
moldam-nos todos numa forma só.

Nós estamos construindo homens
de convicções maleáveis,
que dizem sim a tudo,
preocupados somente
com o pão de cada dia.

Toureiros
dentro da arena,
segurando cautelosamente
suas capas brancas,
e negociando com a fera.




Sunday, January 5, 2020

Um Tijolo

 



Sozinho,
você decide,
onde o tijolo vai:
você pode pô-lo ali,
você pode pô-lo acolá.

Nas suas mãos,
o tijolo é livre
pra ser tudo ou nada.

Um poeta,
do mar Báltico,
achou coisas grandiosas
em cada tijolo que viu,
e quando ele partiu dessa vida,
não tinha um tijolo sequer,
porém as suas arquiteturas
sobreviverão a todos nós.


Se você tem
tudo que a sua pequena alma deseja,
você pode colocar um tijolo
bloqueando a sua porta
para prevenir qualquer um
de lhe roubar suas posses.

Eu desejaria
que todos os tijolos fossem livres,
para serem o que quisessem.
Deus,
fez os tijolos eternos,
e amaldiçoou o homem
com o livre arbítrio
e infinitas encruzilhadas,
sem sinal nenhum;
apenas plenitude absoluta.

Com tantos caminhos em sua frente,
o homem se desespera,
e em dúvida,
pega um tijolo
e plantar suas raízes aqui, lá, em qualquer lugar:
cria um aldeia, se acasala
e faz outros homens
para se sacrificar no nome deles.

Nada faz o homem mais orgulhoso,
do que se sacrificar pelos seus filhos;
entre todas as espécies de animais,
o homem é o único
que exude heroísmo
em plena fuga.

A bíblia,
fala dos homens
e nada diz dos tijolos,
os homens foram criados
a imagem de Deus,
mas o homem perece
num mar de incerteza,
tijolos estão em todas as partes:
sólidos, determinados, eternos.

No final de sua vida,
todo homem deveria ter
não mais do que apenas
um tijolo,
para deixá-lo em algum lugar
pra uma criança achar.

                                                    


A Noiva

 


Em uma manhã ensolarada,
uma pequena flor desabrochou.

Ela brincou com o vento,
provocou o sol
que caía sobre ela.

Ela estava feliz,
porque tinha apenas um dia,
para ser.

Em uma linda manhã de setembro,
ela ficou ali parada:
orgulhosa, bonita, cheia de vida.

Assim como deveria de ser.







Friday, January 3, 2020

Além do Céu Azul




Além do céu azul
pode estar toda razão,
são tantas as dúvidas,
são tantas as perguntas.

Houve um tempo
que eu pensei que sabia ...
Houve um tempo
que eu pensei que sabia...

Mas era somente a juventude
correndo em minhas veias.

Além do céu azul
estão todas as repostas;
quem me dera poder voar tão alto.


                                                    

UM BANCO




Ela ofereceu uma vista:

de um lago, de um sol, centralizado

no meio da moldura, enquadrado

por uma árvore e sua folhagem,

verde de vida.


Na vanguarda da imagem, um banco,

que ela descreveu modestamente

como apenas como um banco.


"Apenas um banco,” ela disse

como se para salvar o dia,

o momento que se evapora.


"Apenas um banco,” ela disse

como se para saudar o dia,

que espera em cada um de nós.


Como se para abençoar os menos abençoados,

ela ofereceu uma moldura, raios de luz, uma árvore

raios de sol,

dispersando sobre todos nós..


"Apenas um banco,” ela disse

à beira do lago cheio de peixes,

lindo como uma mãe gestando uma vida.


Um banco, um som, outro dia

na cidade do jazz,

ou em qualquer outro lugar onde você esteja;

um banco nunca é apenas um banco,

um banco é uma memória de quem se sentou:

para retomar a vida, para contemplar,

para orar, agradecer, para descansar;

para dar as mãos e chorar pelos que por aqui passaram.




|  in the memory of Renee |


                                                    



                                                     

Thursday, January 2, 2020

Roma

 


Wednesday, January 1, 2020

Andarilhos | Três Rios, RJ, Brazil - seu José e seus vira-latas | 2015




Eu cuido da nascente 
das águas
da vida
num mundo que não existe mais;
que morreu pensando em ser mais.

O mundo dele
quem cria é o homem
com as próprias mãos
com luta, com trabalho
e com muita paixão;
mas o homem é confuso
entre as coisas que tem
e as que não tem ainda.

Eu cuido da nascente
da vida
das águas
e a ironia divina
me fez andarilho em Três Rios:
                                                                                
me Deus saúde,
e dois vira-latas
que não sabem que para o mundo
eu não sou nada,
não tenho carro
não tenho dinheiro
não tenho ações.

Mas do pouco que tenho

dou de comer e beber a eles
que são como eu
felizes com o pouco que temos.

Daqui a pouco,

me vou desse mundo
de homens- não de caes -
de homens que não me vêem

porque eu não carrego griff alguma,
de homens que não me notam

porque eu tenho o necessário;
porque não tenho casa
digna de recebê-los.

Eu cuido da nascente

das águas
da vida
que sinto evaporando de mim.
Deixo para trás
dois cachorros
e levo dessa vida
entre outras coisas
o carinho dum poeta
lá dos Estados Uinidos
que acha esse mundo muito grande;
grande demais.

Meu Deus, proteja-lo

porque ele não sabe
que ja tem tudo que precisa
pra viver:

água
o pão,
com a sua benção uma manteguinha,
e se não for ganância
um xícara de café,
o amor de sua familia
e a vida.


Porque não se vive sem a vida

que o senho já deu:
o resto é o resto
o nada
o que não levamos daqui.

Senho,

fazê-lo ver que nos deu 
água
o pão 
a vida
e nos fez todos andarilhos
nessa vida
para amarmos uns aos outros
e espalhar sorrisos e felicidade
por onde passamos
ate que o senho venha
buscar nois todos
um por um.



                                            

Wednesday, December 25, 2019

Natal em Sete Notas


Doravante, hei de dizer-te, meu caro,
que no início não havia mutação,
essa terra era um vale... esse vale: breu.
A escuridão se estendia por onde os olhos
viam e não viam, despojados da virtude.
O homem se arrastava na escuridão
com o pó tomando-lhe a face entre as mãos. 

Minha vida, ainda, nesse passado distante
não, felizmente, se fez existir.
Por isso não me saem da memória esses fatos
mas vem em minha mente a imagem desses dias
onde nada luzia no horizonte,
e certamente, hei de dizer-te, que nem a semente
envolta na terra num abraço fraterno se fez germinar.

Sol! Sol! Salvação, se podia ouvir.
Clamava a terra em prantos, isolada
e o universo se estendia por todos os lados
e a terra era um infinito de escuridão;
o homem caminhava na terra sem destino
olhando sem nada ver, implorando por ajuda
e sua vida se resumia em clamar, clamar...

Sina grande. Perder os dias sem nada ver
e nos cantos, na terra, e nos céus: escuridão.
Mesmo que as pupilas cansadas buscassem raios de luz,
que podem elas, secundárias, contra a escuridão
que com dentes negros prendiam o que ousava luzir?
Era necessário a providência contra o céu,
contra o azul que não se fazia ver.

Recusar a brilhar e culminar de desprezo o criador.

E foi assim que no céu um cometa despontou,
onde, até agora, apenas a escuridão existia.
E como tudo que existe traz dentro de si um mistério,
assim também essa verdade foi firmada,
pois na calda daquele cometa um menino dormia tranquilamente.
Alguns dos que viram, juraram vê-lo ser posto numa gruta,
e uma estrela brilhou no céu, desafiando os negros dentes da noite.

O menino falou, sob as estrelas, sobre o amor divino
com a simplicidade de uma flor que nasce.
Cores diversas se estenderam por todos os lados
e a noite se explodiu em dia, que contornou o vale,
indo a escuridão para o céu
como pano de estrelas, castigo eterno
por tirar do homem o que Deus prometeu: luz.



Lágrimas de contentamento, foi o que juraram ver.
Mas, meu Deus, jurar não é das artes a mais vil?
O homem desde que se entende por gente,
jura que viu, que ouviu e que entende perfeitamente,
mesmo sendo a sua natureza tão frágil quanto o seu testamento.
Apesar da natureza humana, o universo se iluminou
e deuses, por vontade divina, formaram as constelações.

E eu tendo a acreditar que somos todos diminutos cometas de esperança.

Doravante, hei de dizer-te, meu caro
que o menino corou Dezembro de paz e amor
e todos o viram entoar uma canção
vinda de um lugar onde os sentidos se rejubilem.
O menino abriu os olhos e pediu
e uma lua linda se foi para o céu e brilhou
fazendo-nos acreditar no amor divino.

Há quem diga, meu caro, que estrelas que passam e ficam,
são murmúrios de felicidade dos deuses.