Doravante, hei de dizer-te, meu caro,
que no início não havia mutação,
essa terra era um vale... esse vale: breu.
A escuridão se estendia por onde os olhos
viam e não viam, despojados da virtude.
O homem se arrastava na escuridão
com o pó tomando-lhe a face entre as mãos.
Minha vida, ainda, nesse passado distante
não, felizmente, se fez existir.
Por isso não me saem da memória esses fatos
mas vem em minha mente a imagem desses dias
onde nada luzia no horizonte,
e certamente, hei de dizer-te, que nem a semente
envolta na terra num abraço fraterno se fez germinar.
Sol! Sol! Salvação, se podia ouvir.
Clamava a terra em prantos, isolada
e o universo se estendia por todos os lados
e a terra era um infinito de escuridão;
o homem caminhava na terra sem destino
olhando sem nada ver, implorando por ajuda
e sua vida se resumia em clamar, clamar...
Sina grande. Perder os dias sem nada ver
e nos cantos, na terra, e nos céus: escuridão.
Mesmo que as pupilas cansadas buscassem raios de luz,
que podem elas, secundárias, contra a escuridão
que com dentes negros prendiam o que ousava luzir?
Era necessário a providência contra o céu,
contra o azul que não se fazia ver.
Recusar a brilhar e culminar de desprezo o criador.
E foi assim que no céu um cometa despontou,
onde, até agora, apenas a escuridão existia.
E como tudo que existe traz dentro de si um mistério,
assim também essa verdade foi firmada,
pois na calda daquele cometa um menino dormia tranquilamente.
Alguns dos que viram, juraram vê-lo ser posto numa gruta,
e uma estrela brilhou no céu, desafiando os negros dentes da noite.
O menino falou, sob as estrelas, sobre o amor divino
com a simplicidade de uma flor que nasce.
Cores diversas se estenderam por todos os lados
e a noite se explodiu em dia, que contornou o vale,
indo a escuridão para o céu
como pano de estrelas, castigo eterno
por tirar do homem o que Deus prometeu: luz.
Lágrimas de contentamento, foi o que juraram ver.
Mas, meu Deus, jurar não é das artes a mais vil?
O homem desde que se entende por gente,
jura que viu, que ouviu e que entende perfeitamente,
mesmo sendo a sua natureza tão frágil quanto o seu testamento.
Apesar da natureza humana, o universo se iluminou
e deuses, por vontade divina, formaram as constelações.
E eu tendo a acreditar que somos todos diminutos cometas de esperança.
Doravante, hei de dizer-te, meu caro
que o menino corou Dezembro de paz e amor
e todos o viram entoar uma canção
vinda de um lugar onde os sentidos se rejubilem.
O menino abriu os olhos e pediu
e uma lua linda se foi para o céu e brilhou
fazendo-nos acreditar no amor divino.
Há quem diga, meu caro, que estrelas que passam e ficam,
são murmúrios de felicidade dos deuses.