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Tuesday, June 2, 2020

|Part 1| Carta ao Meu Primeiro Amor: Dr. Karla Maria


nota:
perdoe os erros nesta tradução; não escrevo em português há muitos anos. 

Escrevi esse tributo sem imaginar que perderia uma pessoa muito querida, Renee French, atriz e enfermeira em um hospital em Manhattan. Gostava tanto de ser enfermeira que deixou pra tras uma carreira promissora como atriz. Trabalhou com Spike Lee e Jim Jarmusch's Coffee and Cigarettes e depois de ter tantas ofertas pra outros filmes decidiu se tornar enfermeira. Andávamos de madrugada sozinhos pelas ruas de New York e ela sorria e me dizia sarcasticamente: " Marco, veja como é bom ser famoso. Ninguém nos incomoda." Enquanto bebia seu nauseante café com gelo.


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  A realidade é realmente mais estranha que a ficção, a menina de 9 anos que eu amo cresceu para salvar o mundo.



| Sou fácil de identificar; Eu sou o cineasta que não se importava com a moldura, a câmera ou qualquer outra coisa quando ela estava por perto. Karla é a menina fosforescente.|




(Um tributo a todas médicas, enfermeiras e funcionárias)


PART ONE


Quando deixei Afonso Arinos, Brasil, eu tinha 11 anos. Eu dei um beijo de despedida na minha avó; para nunca mais voltar até quase 30 anos depois. Sou órfão; e ser órfão dá a você solidariedade com todas as minorias, todos condenados ao mesmo destino de não ter uma unidade para se definir, e ter que se forjar com os materiais deixados para trás por outras pessoas. Não sei se isso é verdade, mas sempre achei que os órfãos de todo o mundo gostam de viajar: conhecer novas pessoas, experimentar novas culturas, falar novos idiomas; para esconder o fato de que não pertencemos a lugar algum.

Deixei para trás minha avó, um rio e suas cintilantes águas marrons, mangueiras, jabuticabeiras, minha escola primária e Karla Maria, o meu primeiro e grande amor.

Você, Karla Maria, foi e ainda é um segredo que guardo em meu coração durante toda a minha vida. Um amor puro que reside em mim, sempre, como oxigênio puro, reservado para situações de emergência. As lembranças do amor que senti por você, um outro ser humano, em uma época em que a inocência prevalece, é a coisa mais próxima que um ateu tem da divindade. Houve momentos em minha vida que a memória de você aos 9 anos de idade foi a única coisa que me manteve vivo e são. Eu sei o quanto aborrecimento eu causei a você: escrevendo cartas de amor, olhando para você durante as aulas, com ciúmes de qualquer outro garoto que falasse com você; (sim Frederico, também não te esqueci. Espero que esteja bem e com saúde.)

Eu não pude me prevenir de te amar, acordei um dia e lá estava você, e não havia mais nada. Não sei explicar bem o começo de um amor. O começo de um grande amor não é como o começo do universo, não é uma criação, é uma força que já existe em algum lugar e é mais poderosa do que qualquer coisa ao redor. Deus criou o mundo em uma exibição espetacular de poder e matemática; o amor ele criou no domingo, seu dia de folga. Quando Newton, um fervoroso crente, estava tentando explicar a lei da gravidade, ele mencionou um éter, ele estava descrevendo o amor, ele simplesmente não sabia disso. O amor une; revolta, no melhor sentido da palavra. Um dia você está bem, seguindo seu dia a dia, e de repente você sente, e o amor consome todos os momentos do seu dia e noite; você se torna um corpo celeste viajando em torno de sua órbita.

A última lembrança que tenho de você, Karla, estávamos dentro de um ônibus, quando tínhamos 17 anos. Lembro de caminhar até a parte de trás do ônibus para dizer olá para você e sua mãe, mas por alguma razão agora tenho dúvidas se realmente conversei com você naquele dia. Eu tinha escrito minha terceira peça e estava a caminho de assistir a apresentação no Rio de Janeiro. Lembro-me de conversar com você sobre isso; mas também questiono essa memória porque não consigo me lembrar do seu rosto. De alguma forma, meu cérebro excluiu todas as suas imagens, exceto quando tínhamos 9 anos de idade. Seu rosto está esculpido em minha memória, em meu coração, e eu visito nossa sala de aula toda vez que a vida fica um pouco insuportável. É o meu superpoder.

Eu sempre respeitei a sua memória; por isso, confesso que não ouvi falar de você nem pensei em você como adulta até o início das mortes, na Itália. O país dos meus antepassados, meu avô; de Dante e sua Beatriz. Duvido que ele tenha amado sua musa o tanto quanto eu amo você; ele era melhor em expressar isso. Sorrio pela simplicidade e inocência dessa afirmação. Dante é meu escritor favorito e Divina Comédia meu livro favorito, é também um lugar onde encontro refúgio de vez em quando; é igualado apenas a Dom Quixote, outra obra-prima de um homem dilacerado pelo amor e destinado a perambulações sem rumo. Eu me relaciono mais com o Quixote; melhor companhia. Se você está passando pelo inferno, seu companheiro de viagem deve ser gentil, engraçado e um facilitador. Uma pitada de loucura também é necessária.

Quando os corpos começaram a se acumular ao redor do mundo, fiquei sentado contemplando as vidas perdidas e, pela primeira vez, desde os 11 anos de idade, depois de me certificar de que meus filhos estavam seguros em minha casa, pensei em você. Eu desejava saber que você estava bem e segura. Tenho que confessar a você que foi só então que fui procurar por você, a versão adulta de você. Não gosto nem um pouco das mídias sociais, não há nada de social nelas, mas foi útil para encontrar você; e eu tive uma surpresa.

A garota de 9 anos que eu amo cresceu e estava lá na linha de frente, enfrentando um inimigo invisível que mata tudo em seu caminho; Fiquei feliz em descobrir que você é exatamente o que eu pensei que você seria aos 9 anos de idade.

Fiquei feliz de saber como você está vivendo sua vida. Você encontrou o que a maioria das pessoas em Hollywood e no mundo todo procuram e não conseguem encontrar: amor verdadeiro. Você conheceu seu marido, vocês dois estudaram medicina, se casaram e tiveram três lindas filhas. As muitas cartas de amor que escrevi para você quando criança, não tem comparação com as lindas mensagens de amor que o Dr. Fernando, seu marido, escreve para você em seu perfil de mídia social. Vocês dois conseguiram encontrar o que o resto de nós esperamos, uma alma gêmea; e vocês não tinham como saber que todos os sacrifícios que você fizeram seriam imperativos para salvar a vida de seus vizinhos. Vocês estão vivendo uma bela história de amor e seus filhos têm sorte em te-los como pais; sua cidade é abençoada por ter vocês dois como médicos residentes.

Enquanto eu fico em casa, são e salvo, vocês e a comunidade médica estão lá fora, salvando a vida das pessoas. No meio de um surto de vírus mais perigoso de nossas vidas, vocês dois arriscam a vida que construíram para salvar os outros. Ver o mundo pegar fogo é um tema comum no cinema e, a partir do momento em que essa pandemia começou, eu sabia que precisávamos nos preparar para uma situação difícil. Eu leio muito. Tenho uma biblioteca pessoal de quase 3.000 livros e li alguns deles; também li alguns livros sobre a pandemia de 1918 e sei o quão perigosa é essa situação. E agora eu tenho a memória da minha querida Renee que se foi em 2020.

Me enfurece assistir os políticos jogando seus jogos tolos, garantindo uma proliferação do vírus e multiplicando as pessoas que sua comunidade terá que tratar. Foi esse sacrifício que me levou a escrever essa carta de agradecimento disfarçada de carta de amor; ou talvez seja o contrário. Eu não sei. Está tarde. 3:20 da manhã agora. Eu mantenho um horário de artista.

Sou artista, de profissão e temperamento, minha avó sabia disso, eu ficava ali sentado, pensando em você, e ela se aproximava de mim, chamava meu nome e me batia no topo da cabeça algumas vezes; Eu olhava para ela a tempo de vê-la balançar a cabeça, me beijar e ir embora novamente. Era o jeito dela de me dizer: "o que quer que seja que você está pensando em fazer, não faça". Eu deveria ter escutado ela. Mas não ouço bem, nem mesmo minhas próprias vozes que me disseram para não escrever essa carta. Houve um debate interno; Eu venci. Meu crítico interno apontou para mim os pessimistas, o povo cínico e argumentou que eles tomariam isso da maneira errada, mas eu respondi que você e seus colegas médicos estão lá no campo de batalha mais perigoso que se possa imaginar, lutando contra um inimigo que você nem sequer pode ver. Escrever uma carta de agradecimento é o mínimo que posso fazer.

As eternas vozes interiores sugeriam que seria um pouco inapropriado escrever uma carta de amor para uma pessoa com uma família, mas eu não escutei. Esta é uma carta de amor para uma época que já passou; uma carta de amor da minha criança interior pra sua criança interior, a criança de 9 anos que me conhecia bem e não ficaria surpreso com minhas travessuras. Lembrei-me de Angelina Jolie ganhando um Oscar, e de estar tão feliz que confessou ao mundo inteiro o amor que carregava em seu coração por seu irmão, sim, seu irmão. No dia seguinte, algumas pessoas muito loucas e odiosas estavam lá, sugerindo que ela estava tendo um relacionamento sexual inadequada com o irmão. Pessoas pequenas e absurdas.

Enquanto estou aqui sentado fico pensando na eternidade do amor, na fragilidade da vida, Tom Cruise me veio também à mente; ele também foi ao show da Oprah e pulou no sofá para anunciar ao mundo que amava outro ser humano; e ele também foi castigado. Também nunca entendi isso. Me lembro ouvir alguém dizer, e cito o mesquinho "ele está fora de controle". Me recordo de pensar na época: "evidentemente, é claro que ele está fora de controle, está apaixonado. Eu não acho que ele está pulando alto o suficiente nessa poltrona. "

Talvez Karla, depois de assistir a uma demonstração de coragem vinda da sua comunidade, nos uniremos ao redor do mundo e exterminaremos esse outro vírus, porque está sufocando nosso espírito livre, a parte de nós que quer viver plenamente e cometer erros. Os seres humanos devem se unir contra todos os tipos de sentenças de morte; seja físico ou espiritual. Para a multidão odiosa, esta carta será o que será, embora eu espere que ficar em casa por causa do coronavirus ensine essas pessoas alguma empatia e humildade. Seja pequeno, mas não detestável. O próprio Terminator, Arnold, ensinará isso na parte dois. Sim, há outra parte.

Não tenho o pragmatismo necessário para ser médico, Karla, mas minha imaginação me permite voltar à nossa sala de aula e vê-la novamente, várias vezes; olhando para mim, irritada com minhas cartas de amor, envergonhada pelos presentes que lhe dei, todos eles, como você sabe, coisas que "liberei" da minha avó. ( Em linguagem de cinema nunca se rouba nada: se libera, copia, presta homenagem) Em minha defesa, só lhe dei as coisas que ela mais amava. Nos meus momentos mais sombrios, quando não há amor ao meu redor, e prejudicado pelo meu ateísmo, viajo de volta no tempo em meditação, para vê-la. Um pensamento engraçado me ocorreu pela primeira vez; quando volto a vê-la, só vou à sala de aula no segundo andar, a último sala à direita, próximo ao banheiro onde ficava o fantasma da mulher com o algodão no nariz; Só Deus sabe por que ela ficava lá. Pensando bem, esse fantasma viaja muito porque li em algum lugar que ela estava assustando crianças em Nova Jersey. Pobre fantasma! Nova Jersey? Talvez por isso todos querem escapar de lá.

O que acabei de perceber é que escolhi visitar a sala de aula no andar de cima porque ainda não havia Frederico, ele veio mais tarde. Quão ridículo eu era? Talvez ainda seja. Acabei de fazer essa conexão. A maior sala de aula, como você sabe, é a que fica em frente à escola, as janelas atrás de mim na foto, eu nunca visito essa sala. É assombrada pelo Frederico.

Pablo Picasso, um homem que nada sabia sobre o amor, apenas conquistas frívolas, disse uma vez que um artista deve permitir que sua criança interior assuma o controle; eu também acho. Sento-me na sala de aula no andar de cima, assistindo Tia Zélia escrevendo “Interpretação de Textos” no quadro-negro; Olho ao redor da sala e sinto todo o seu amor enchendo minha alma. Sinto falta da Tia Zélia, ela era minha anja da guarda. Eu lembro dela olhando para mim e balançando a cabeça, sorrindo toda vez que eu lhe entregava um poema, ou uma das coisas da minha avó. Lembro-me de que toda vez que Tia Zélia vinha à minha casa, para devolver seus presentes, eu corria para a janela da frente da minha casa e olhava para a igreja, com a nossa escola primária ao lado, e a casa onde você morava e eu imaginava você lá dentro: irritada e despresenteada. O círculo de flashback amoroso em que volto é sempre o mesmo: olho ao redor da sala, olho para você, você fica irritada e desvia o olhar ou gesticula para que eu olhe para o quadro. Você também era bem irritadinha, né? Fala a verdade.

Outro dia, Karla, vi uma entrevista com o governador da Flórida, um homem que se recusou a instruir as pessoas a ficar em casa e meses depois quando 900 pessoas por dia estavam morrendo na Itália, teve a audácia de dizer que ninguém conhecia esse vírus, e que ninguém sabia que era tão poderoso e que pessoas assintomáticas podiam transmiti-lo. Agora, por causa de suas manobras políticas e estupidez pessoal, a equipe médica em toda a Flórida terá alguns meses horríveis pela frente. Eu gostaria de ver imagens do governador da Flórida enterrando alguns dos corpos para que ele entenda completamente a sentença de morte que dispersou contra as pessoas que votaram nele e a tortura que ele impôs a equipe médica na linha de frente. Karla, esses são os pensamentos que me levam à meditação. Estes são os pensamentos que me trazem a você e o amor que você fornece.

Ontem à noite, depois que 1.700 pessoas morreram nos EUA em um dia, viajei de volta no tempo e fiquei lá, assistindo Tia Zélia e você. Desta vez, quando você olhou para mim, eu quase lhe disse a verdade: “Karla, eu vim do ano 2020, ainda te amo da mesma maneira, mas você encontrará o amor da sua vida, um garoto chamado Fernando, vocês dois farão faculdade de medicina juntos e se tornarão médicos. Você cuidará de crianças e seu marido será cirurgião; juntos criarão três lindas e incríveis filhas. Seu marido também é político, mas deixarei isso passar; você o escolheu e "In You I Trust."

Mas eu não disse nada, fiquei sentado olhando para você e ponderando sobre o perigo que você está enfrentando no ano de 2020 e temia que você percebesse minhas preocupações. Você parecia tão pequena sentada ali que eu me senti triste e chorei, pensando: "como é que essa menina tão pequena enfrentará uma pandemia que matará milhões de pessoas em todo o mundo"? Senti orgulho em amar você. Eu me sinto inútil sentado aqui escrevendo isso.

Adoro escrever e dirigir é o meu dom, mas estou em casa, absolutamente inútil contra esse inimigo, assim como muitas, muitas estrelas de cinema famosas, heróis de ação, astros do rock, jogadores de futebol e celebridades de todos os tipos. Somos irrelevantes quando importa. Ricky Gervais não estava brincando e agora é óbvio; somos artistas e este é o momento de figuras heróicas reais: Bruce Willis, Arnold Schwarzenegger, Sylvester Stallone, Tom Cruise e Will Smith não precisam se inscrever. O mundo está morrendo de uma pessoa por vez e eles não têm as habilidades necessárias para o trabalho. Então eles devem se esconder em casa com o resto de nós, observando médicos como vocês, funcionários de limpeza de hospitais, enfermeiras, coletores de lixo, coveiros, enfrentar a tempestade.

Em um futuro próximo, quando alguém estiver pontificando sobre como é incrível e talentoso, ocupado dizendo quantos seguidores eles têm nas mídias sociais, pergunte a eles onde estavam durante a pandemia de 2020; quando lhe disserem que, assim como eu, estavam em casa, escondidos, desejam-lhes bem e diga que você está feliz por estarem vivos. Não há mais nada que você precise saber deles.

É realmente inspirador o que a sua comunidade está fazendo, e como deve ser assustador entrar e sair de seu equipamento de proteção não podendo ver onde o inimigo está. A minha querida Renee, esteja onde estiver tem o meu amor e admiração.

A realidade é realmente mais estranha que a ficção; a menina de 9 anos que eu amo cresceu para salvar o mundo, uma pessoa de cada vez; não nas páginas de um romance ou na tela de cinema, mas na vida real onde importa. E ela está fazendo isso em silêncio, como uma boa garota cristã.

E seu companheiro de aventuras é chamado Dr. Fernando, o amor de sua vida. Não é essa uma linda história de amor?


                                                    






Friday, January 10, 2020

Mães




Eu quero ver a nascente,
de aguas cristalinas
que matam a nossa sede,
que contornam as pedras,
e saltam penhascos gigantescos.

Existe tanta coisa a fazer, 
nesse mundo, nessa nossa vida,
que eu abro a janela
e olho o mundo lá fora,
e fico aqui pensando:
existe tanta coisa a fazer
enquanto eu sento aqui e faço uma criança.

Eu quero ver as pirâmides
que Deus fez, os sete mares,
mas eu tenho voce
crescendo dentro de mim;
e enquanto homens e mulheres
embarcam em aviões, trens e yachts luxuosos,
eu me sento aqui e faço uma criança:
acaricio minha barriga, imagino seus lábios,
seus dedos gordinhos, seus olhos.

Eu invejo as mulheres e seus parceiros
pelo mundo a fora,
conquistando novos fronteiras:
chefes de estado, de empresas
fazendo seus nomes nas artes.

Existe tanta coisa a fazer, 
nesse mundo, nessa nossa vida,
que eu abro a janela
e olho o mundo lá fora e suspiro:
acaricio minha barriga, imagino seus lábios,
seus dedos gordinhos, seus olhos.
 

                                                    

Wednesday, January 8, 2020

Carlos



Hoje,
meu filho me perguntou
o que é um poema,
e eu lhe disse.

Talvez,
embriagado pelo meu orgulho
em seu interesse
por uma arte tão bonita e importante,
eu me precipitei,
e traí milhares de anos de versos
e matei tantos poetas.

Então eu fui buscar
um conhecimento maior,
e achei tudo tão confuso.

Porque, eu me pergunto,
o poeta,
faz seus versos tão impenetráveis,
porque ele os faz tão elusivos.

Eu me senti pequeno na alma,
que meu filho esperava,
enquanto a minha ignorância
me envolvia como um manto
invisível e apertado.

Então eu o fiz, o que fazem
os que não sabem;
irritado,
eu lhe disse que estava ocupado.

Mas o meu filho cresceu,
e virou um adolescente:
inteligente, argumentativo, incapaz
de permitir ao pai, um porto seguro,
um refúgio de sua própria ignorância;
saiu em busca de suas próprias respostas.

Quando ele encontrou um poeta,
ele me ligou imediatamente:
um poema, Carlos lhe disse,
é uma caixinha de presente,
com vida dentro. 

                                                                         

Agora


Eu sonho com o agora
somente agora
e nada mais...

Um suspiro -
não um som-
move meu momento,
e nada mais...

Meio pensamento
que devo conciliar,
com gratidão, sem me importar
com o nascer de uma teoria.

Dentro do meu coração,
um pressentimento me inquieta,
de que nada mais,
é nada mais que agora,
um momento singular,
paradoxalmente eterno.

                                                                         

Perto do Mar


 

Onde estarei
quando o fim chegar,
onde estarei?

Perto do mar?

O que será
de você e de mim,
o que será?

Haverá espaço de ser?

Poeira noturna
caindo no meu ser,
sobre mim
pra todo mundo ver.
Caravanas de carros negros
carregando-me para minha aurora:
olhos vermelhos, vazios, reunidos
pra me aconchegar, e retornar
para seus dias, seus novos dias
dias que não mais serei.

Quando eu deixar de ser
e cada dia que vier sobre o mar
achar somente você, e não o meu ser

O que serei?
Onde estarei?


                                            

Monday, January 6, 2020

Ernest

 


Sinceramente me diga,
como domar um touro
neste tempo de homens covardes.

Quando todos os meninos
são ensinados a agir como as meninas,
e a beleza das meninas são esquecidas
e confundidas em suas sexualidades.

Um dia
de silêncio absoluto;
um dia de paz.

Um dia
onde as estruturas ao nosso redor,
moldam-nos todos numa forma só.

Nós estamos construindo homens
de convicções maleáveis,
que dizem sim a tudo,
preocupados somente
com o pão de cada dia.

Toureiros
dentro da arena,
segurando cautelosamente
suas capas brancas,
e negociando com a fera.




Sunday, January 5, 2020

Um Tijolo

 



Sozinho,
você decide,
onde o tijolo vai:
você pode pô-lo ali,
você pode pô-lo acolá.

Nas suas mãos,
o tijolo é livre
pra ser tudo ou nada.

Um poeta,
do mar Báltico,
achou coisas grandiosas
em cada tijolo que viu,
e quando ele partiu dessa vida,
não tinha um tijolo sequer,
porém as suas arquiteturas
sobreviverão a todos nós.


Se você tem
tudo que a sua pequena alma deseja,
você pode colocar um tijolo
bloqueando a sua porta
para prevenir qualquer um
de lhe roubar suas posses.

Eu desejaria
que todos os tijolos fossem livres,
para serem o que quisessem.
Deus,
fez os tijolos eternos,
e amaldiçoou o homem
com o livre arbítrio
e infinitas encruzilhadas,
sem sinal nenhum;
apenas plenitude absoluta.

Com tantos caminhos em sua frente,
o homem se desespera,
e em dúvida,
pega um tijolo
e plantar suas raízes aqui, lá, em qualquer lugar:
cria um aldeia, se acasala
e faz outros homens
para se sacrificar no nome deles.

Nada faz o homem mais orgulhoso,
do que se sacrificar pelos seus filhos;
entre todas as espécies de animais,
o homem é o único
que exude heroísmo
em plena fuga.

A bíblia,
fala dos homens
e nada diz dos tijolos,
os homens foram criados
a imagem de Deus,
mas o homem perece
num mar de incerteza,
tijolos estão em todas as partes:
sólidos, determinados, eternos.

No final de sua vida,
todo homem deveria ter
não mais do que apenas
um tijolo,
para deixá-lo em algum lugar
pra uma criança achar.

                                                    


A Noiva

 


Em uma manhã ensolarada,
uma pequena flor desabrochou.

Ela brincou com o vento,
provocou o sol
que caía sobre ela.

Ela estava feliz,
porque tinha apenas um dia,
para ser.

Em uma linda manhã de setembro,
ela ficou ali parada:
orgulhosa, bonita, cheia de vida.

Assim como deveria de ser.







Friday, January 3, 2020

Além do Céu Azul




Além do céu azul
pode estar toda razão,
são tantas as dúvidas,
são tantas as perguntas.

Houve um tempo
que eu pensei que sabia ...
Houve um tempo
que eu pensei que sabia...

Mas era somente a juventude
correndo em minhas veias.

Além do céu azul
estão todas as repostas;
quem me dera poder voar tão alto.


                                                    

UM BANCO




Ela ofereceu uma vista:

de um lago, de um sol, centralizado

no meio da moldura, enquadrado

por uma árvore e sua folhagem,

verde de vida.


Na vanguarda da imagem, um banco,

que ela descreveu modestamente

como apenas como um banco.


"Apenas um banco,” ela disse

como se para salvar o dia,

o momento que se evapora.


"Apenas um banco,” ela disse

como se para saudar o dia,

que espera em cada um de nós.


Como se para abençoar os menos abençoados,

ela ofereceu uma moldura, raios de luz, uma árvore

raios de sol,

dispersando sobre todos nós..


"Apenas um banco,” ela disse

à beira do lago cheio de peixes,

lindo como uma mãe gestando uma vida.


Um banco, um som, outro dia

na cidade do jazz,

ou em qualquer outro lugar onde você esteja;

um banco nunca é apenas um banco,

um banco é uma memória de quem se sentou:

para retomar a vida, para contemplar,

para orar, agradecer, para descansar;

para dar as mãos e chorar pelos que por aqui passaram.




|  in the memory of Renee |


                                                    



                                                     

Thursday, January 2, 2020

Wednesday, January 1, 2020

Andarilhos | Três Rios, RJ, Brazil - seu José e seus vira-latas | 2015




Eu cuido da nascente 
das águas
da vida
num mundo que não existe mais;
que morreu pensando em ser mais.

O mundo dele
quem cria é o homem
com as próprias mãos
com luta, com trabalho
e com muita paixão;
mas o homem é confuso
entre as coisas que tem
e as que não tem ainda.

Eu cuido da nascente
da vida
das águas
e a ironia divina
me fez andarilho em Três Rios:
                                                                                
me Deus saúde,
e dois vira-latas
que não sabem que para o mundo
eu não sou nada,
não tenho carro
não tenho dinheiro
não tenho ações.

Mas do pouco que tenho

dou de comer e beber a eles
que são como eu
felizes com o pouco que temos.

Daqui a pouco,

me vou desse mundo
de homens- não de caes -
de homens que não me vêem

porque eu não carrego griff alguma,
de homens que não me notam

porque eu tenho o necessário;
porque não tenho casa
digna de recebê-los.

Eu cuido da nascente

das águas
da vida
que sinto evaporando de mim.
Deixo para trás
dois cachorros
e levo dessa vida
entre outras coisas
o carinho dum poeta
lá dos Estados Uinidos
que acha esse mundo muito grande;
grande demais.

Meu Deus, proteja-lo

porque ele não sabe
que ja tem tudo que precisa
pra viver:

água
o pão,
com a sua benção uma manteguinha,
e se não for ganância
um xícara de café,
o amor de sua familia
e a vida.


Porque não se vive sem a vida

que o senho já deu:
o resto é o resto
o nada
o que não levamos daqui.

Senho,

fazê-lo ver que nos deu 
água
o pão 
a vida
e nos fez todos andarilhos
nessa vida
para amarmos uns aos outros
e espalhar sorrisos e felicidade
por onde passamos
ate que o senho venha
buscar nois todos
um por um.



                                            

Wednesday, December 25, 2019

Natal em Sete Notas


Doravante, hei de dizer-te, meu caro,
que no início não havia mutação,
essa terra era um vale... esse vale: breu.
A escuridão se estendia por onde os olhos
viam e não viam, despojados da virtude.
O homem se arrastava na escuridão
com o pó tomando-lhe a face entre as mãos. 

Minha vida, ainda, nesse passado distante
não, felizmente, se fez existir.
Por isso não me saem da memória esses fatos
mas vem em minha mente a imagem desses dias
onde nada luzia no horizonte,
e certamente, hei de dizer-te, que nem a semente
envolta na terra num abraço fraterno se fez germinar.

Sol! Sol! Salvação, se podia ouvir.
Clamava a terra em prantos, isolada
e o universo se estendia por todos os lados
e a terra era um infinito de escuridão;
o homem caminhava na terra sem destino
olhando sem nada ver, implorando por ajuda
e sua vida se resumia em clamar, clamar...

Sina grande. Perder os dias sem nada ver
e nos cantos, na terra, e nos céus: escuridão.
Mesmo que as pupilas cansadas buscassem raios de luz,
que podem elas, secundárias, contra a escuridão
que com dentes negros prendiam o que ousava luzir?
Era necessário a providência contra o céu,
contra o azul que não se fazia ver.

Recusar a brilhar e culminar de desprezo o criador.

E foi assim que no céu um cometa despontou,
onde, até agora, apenas a escuridão existia.
E como tudo que existe traz dentro de si um mistério,
assim também essa verdade foi firmada,
pois na calda daquele cometa um menino dormia tranquilamente.
Alguns dos que viram, juraram vê-lo ser posto numa gruta,
e uma estrela brilhou no céu, desafiando os negros dentes da noite.

O menino falou, sob as estrelas, sobre o amor divino
com a simplicidade de uma flor que nasce.
Cores diversas se estenderam por todos os lados
e a noite se explodiu em dia, que contornou o vale,
indo a escuridão para o céu
como pano de estrelas, castigo eterno
por tirar do homem o que Deus prometeu: luz.



Lágrimas de contentamento, foi o que juraram ver.
Mas, meu Deus, jurar não é das artes a mais vil?
O homem desde que se entende por gente,
jura que viu, que ouviu e que entende perfeitamente,
mesmo sendo a sua natureza tão frágil quanto o seu testamento.
Apesar da natureza humana, o universo se iluminou
e deuses, por vontade divina, formaram as constelações.

E eu tendo a acreditar que somos todos diminutos cometas de esperança.

Doravante, hei de dizer-te, meu caro
que o menino corou Dezembro de paz e amor
e todos o viram entoar uma canção
vinda de um lugar onde os sentidos se rejubilem.
O menino abriu os olhos e pediu
e uma lua linda se foi para o céu e brilhou
fazendo-nos acreditar no amor divino.

Há quem diga, meu caro, que estrelas que passam e ficam,
são murmúrios de felicidade dos deuses.



                                                    



Tuesday, April 3, 1973

Que tal agora?

 

Paris, 3 de April de 1973



     Marie,

conhecer você foi ótimo; uma surpresa para um dia que até então ia conforme o planejado. Eu tenho muitos dias assim: planejados. E por mais reconfortantes que sejam, eles não aquecem as noites de solidão.

     Papéis na parede descrevendo os dias que virão, fragmentados em anos, meses, horas, que se multiplicam até que o que existe é uma cacofonia de coisas a fazer.

     Li tudo o que acabei de escrever para você e parei: pareço ansioso, nervoso, Deus me livre, desesperado? Não sei. Eu também não tenho certeza se quero saber.

Eu me peguei  lembrando de momentos em nossa conversa e percebi, talvez um pouco surpreso, que não editei nenhum dos meus diálogos com você. Tive uma estranha sensação de realização com isso, como se, pela primeira vez, eu me aceitasse como sou.

E esse sentimento me fez querer te encontrar novamente.



                                              


oi


Paris, 3 de April de 1973 



Eu nasci há muitos anos atrás, e novamente outro dia, quando te encontrei. Vou me lembrar para sempre e dizer a todos que a primeira parte do seu corpo que vi foram seus pés. Bem, eu não sei o quão interessante esse detalhe será para alguém, mas é o que eu escolho lembrar.

Olhei por cima do livro que estava lendo e os vi entrando em minha moldura; então levantei minha cabeça e vi seu lindo rosto.

"Oi!" você disse. "Eu só vim te dizer oi." e você tinha uma expressão tipo “eu sou apenas uma simples garota Canadense”; que eu imediatamente entendi seria seu charme.

Lembro de ter pensado: “Sim. Tá bem!. Se liga garota! " Eu senti você chegando a anos-luz de distância. 


                                              

momento fugaz


 Paris, 3 de April de 1973


     Eu estava pensando em você agora; um pensamento fugaz, então decidi pegar uma folha de papel em branco, nova, uma lapiseira, e fazer esse sentimento durar. A memória que a trouxe de volta pra mim foi de você jogando migalhas de pão para os patos; da sua ansiedade: “e se eles vierem aqui? Tudo de uma vez só!!" e você olhou para mim, e eu achei aquilo hilário.

     Tenho certeza de que não foi seu pensamento, mas senti como se você estivesse verificando se eu iria protegê-la de um bando de patos famintos.

     Marie, eu certamente correria, e espero que você tenha a inteligência para me seguir, e o bom senso para deixar as migalhas de pão para trás. Tenho certeza de que não podemos fugir de um bando de patos voadores. Mas você jogou suas migalhas de pão, e eles não deram a mínima para isso. As crianças nos dias de hoje!

     Seu rosto olhando para os patos, para as migalhas de pão, indo e voltando, entre eles e as migalhas de pão. Nossa gargalhada sincronizada por um momento no tempo. Nossa alegria de ser.